Historia de Luziânia no painelAs características pictoriais dos painéis colocam em oposição duas linguagens artísticas, e acredito conter ali duas temporalidades, e alteridade espacial no que se refere ao segundo plano do espaço pictorial, bem como dois modos de representação das figuras. No primeiro painel uma espacialidade figurativa e no segundo o espaço geometrizado. Assim, poderíamos identificar no primeiro painel, uma tendência expressionista, favorável a construção de uma narrativa, pois a seqüência de imagens induz a uma leitura cronológica, perfazendo uma linearidade histórica. Parece que o pintor queria ilustrar a história, recontá-la através das imagens, assim colocou na primeira cena a terra erma, tranqüila, habitada por índios e animais selvagens, um lugar ainda intocado pelos pés do colonizador. Provavelmente o pintor teve contato com os escritos de Melo Álvares, referindo-se aos índios Crixás, Xavantes e Penas brancas, que se encontravam escondidos nas matas do rio maranhão, no ano de 1886, perambulando pacificamente pela região do planalto central. A seguir, o Pintor apresenta a cena onde aparece o colonizador, o bandeirante, e logo depois, os escravos, em seguida, o carro de bois, e sucessivamente, o pequeno arraial, o vaqueiro, a cadeia velha, o sobrado da praça da matriz, a Fiandeira, o tamboril, os músicos, as irmandades religiosas, a pensão do Sr. Juca da Ponte, a Igreja do Rosário, A festa do Divino, os carregadores de água das três Bicas, A escola, e os historiadores. Percebe-se que a sucessão de temáticas mostra a evolução da ocupação mineradora, a formação do arraial, aos aspectos de um povoado, a uma cidade delineada por formas arquitetônicas bem definidas, o colonial brasileiro, a arquitetura bandeirista. O pintor adentra nos costumes e tradições da civilização histórica. Todas essas temáticas encontram respaldo literário e histórico em fontes bibliográficas da antiga Santa Luzia, principalmente nos arquivos de Gelmires Reis e na memória dos antigos moradores de Luziânia. Neste momento, chamo atenção para a imagem dos casarões e monumentos que O D. J pintou no Painel, principalmente porque eles se constituem legítimos documentos que ainda persistem em se manterem erguidos na paisagem urbana de Luziânia e na memória de seus ilustres cidadãos. A igreja do Rosário marco principal dos monumentos coloniais. Esta ali, desenhada e colorida pelas mãos do pintor. O prédio da Cadeia Velha, demolido na década de 60, para construção de um Posto de Gasolina e a pensão do Sr. José Rodrigues dos Reis. Também demolida na década de 70, para edificar o Centro Pastoral Padre José Bazom, são formas exemplares da nossa paisagem colonial, que provavelmente o pintor as copiou de uma ilustração do livro de história de Joseph de Melo Alvares. O sobrado que aparece no painel, tem os traços, a dimensão e o nosso reconhecimento de que se trata do sobrado da Praça da Matriz, de propriedade da nossa confreira Terezinha de Jesus Roriz Machado, este sobrado foi por várias vezes desenhado por D. j em diversos suportes artísticos, ate mesmo em aquarelas e gravuras, provavelmente o monumento mais utilizado pelo pintor para ilustrar a paisagem de Luziânia. Ele não deixou de prestigiar este fabuloso marco da arquitetura colonial de Luziânia, retratando-o no painel. “foi justamente de uma das janelas dos cômodos desse sobrado, que o naturalista francês Saint-Hilaire assistiu ao espetáculo das cavalhadas, em companhia do padre João Teixeira Alvares”, esse acontecimento se deu no ano de 1819, na festa de pentecostes, realizada em frente à Igreja Matriz, nos informa Dilermando Meireles (Apologia de Brasilia, p 52), Outra imagem basilar na reflexão sobre a paisagem de Luziânia, se localiza no início do segundo painel onde aparece a figura de um sacerdote com os braços estendidos, tocando dois elementos estruturais, do lado esquerdo, a forma triangular, semelhante às colunas do Palácio do Planalto, e do lado direito sua mão se direciona a estrutura de um casarão de portais abaulados e telhado inclinado, tendo sobre sua frente um plano, que serve de fundo para as árvores desfolhadas. Seria este plano uma espécie de tapume? Ou superfícies das paredes que buscam a modernização? a forma, o padrão, a escala geométrica? E as árvores desfolhadas, sinalizariam o encerramento do ciclo histórico dos velhos casarões, da antiga Santa Luzia, da paisagem colonial? O sacerdote concebido pelo pintor e esboçado no painel, pode ser uma referência ao padre salesiano Don Bosco, que nasceu em 16 de agosto de 1815, na Itália, na cidade de Castel Nuovo, e faleceu em 31 de Janeiro de 1888, em Turim. O sacerdote teve uma participação relevante no papel desempenhado por políticos e intelectuais da cidade de Luziânia, em cooperação para mudança da Capital Federal. Essa participação veio através de um sonho profético, escrito nas memórias biográficas, volume XVI, do padre salesiano, e que foram trazidas a lume pelos cidadãos de Luziânia, Germano Roriz e Sigismundo Melo, com ajuda do padre Cleto Calimam. “E por iniciativa de Sigismundo Melo, o “Sonho – Visão de Don Bosco” foi divulgada na cidade de Goiânia e logo dele se ocupou toda a imprensa nacional. No Sonho o padre ouve uma voz repentina que dizia: “Quando se vierem cavar as minas escondidas em meio a esses montes, aparecerá aqui à terra prometida que jorrará leite e mel” (Adilson Vasconcelos. A mudança da capital. P.72). Coincidência ou não, o ciclo do ouro já havia se encerrado nas regiões do planalto central, antes da instalação de Brasília, que se tornaria mais tarde a terra prometida, atraindo milhares de brasileiros em busca de novas perspectivas de vida. E grande parte desse contingente migrariam para a região que chamamos, hoje de Entorno, principalmente Luziânia.