terça-feira, 27 de abril de 2010

NO TEMPO DOS ESCRAVOS

O REGO SAIA VELHA



(A imagem apresenta na parte inferior, pequenos arbustos, vegetação tipica do cerrado, e no alto, o morro do Falcão, que fica atraz do setor Jofre Parada, em Luziânia Go. O morro apresenta um corte horizontal, uma espécie de cicatriz, marcas do trabalho escravo, que originou o rego saia velha com mais de 48 Km de extensão.Foto tirada das mediações do Clube AABB,na região que se abre para um grande vale, onde o acesso se da atraves de uma pequena trilha. Foto: Alexandre Moska 2010)


(Transcrito por: José Álfio e Rosana Roriz de Lima Reis.)

No dia 11 de abril de 1768, fundou-se no arraial uma sociedade entre o capitão João Pereira Guimarães, Manoel Pereira Guimarães, Manoel Ribeiro da Silva e Ventura Álvares Pedrosa, homens ricos e possuidores de grande escravatura; para canalizar a água do ribeirão Saia Velha e explorar as minas do Cruzeiro, próximas à povoação.
Tendo o major José Pereira Lisboa declarado em palestra que a água do Saia Velha poderia vir às minas do Cruzeiro não em rego ou canal, mas em cabaças e que duvidava do cometimento do capitão João Pereira Guimarães e seus sócios, os intrigantes trataram logo de levar esta conversa ao conhecimento de Guimarães e este, recebendo o pião na unha, tomou nota e esperou.
A sociedade atacou com força e tenacidade os serviços do gigantesco rego, os quais sendo começados em abril de 1768 continuaram por todo ano de 1769 e, a onze de setembro de 1760, quando menos se esperava, foi aberto o dique que tinha sido feito nas Terras Altas, e água jorrou barulhenta, pela rua do rosário abaixo, conduzindo um turbilhão de cabaças, que produziram um ruído original, acompanhado por uma canção esquisita e insultuosa, cantada por mais de 100 escravos que, com cacetes quebravam as cabaças. Chegando o Major José Pereira Lisboa a janela de seu sobrado, sito a rua do rosário, viu aquele espetáculo tão fora do comum e ouviu que a canção lhe dizia respeito e era muitíssimo ofensiva a seus brios. Sem perda de tempo, saltou a rua e, com uma arma de fogo, procurava repelir a ofensa que lhe era feita. Nesse momento apareceu o Juiz ordinário José Rodrigues costa que, em vez de acalmar os ânimos, tomou o partido do genro e parentes de Guimarães que eram os autores do insulto, pois o próprio Guimarães dele não fez parte, porque estava doente, de cama, em sua residência, no Engenho da Palma. Em seguida, chegou da chácara de Lisboa, que ficava de vista, um grande contingente de escravos, feitores e amigos, chefiados por seu filho Lourenço Lisboa e o conflito assumiu proporções assustadoras. Indignado com a parcialidade do Juiz, Lisboa atirou ao lado a arma de fogo e, sacando do espadim, arrancou-lhe o chinó, deixando-lhe a calva à mostra. Intimado pelo Juiz para se entregar a prisão, Lisboa a ela não se opôs, porém o povo, vociferando de ódio, procurou impedi-la, dando viva a Lisboa e morras ao Juiz. A muito custo, Lisboa, que era homem ilustrado, pacato e respeitador das leis, convenceu os seus amigos que para mais facilmente provar a sua inocência convinha não haver reação; desceu, então, para a casa que servia de prisão, acompanhado por mais de 1000 pessoas. Nada mais burlesco e nada mais engraçado do que aquele juiz sem peruca e sem chapéu, todo molhado e cheio de lama, a frente dessa onda revolucionária, que tão positivamente estigmatizava o seu baixo procedimento e que de um momento para o outro podia linchá-lo. O capitão João Pereira Guimarães, apesar de doente apareceu a noite no arraial e solicitou a soltura de Lisboa, perante quem se justificou; porem o juiz a nada quis atender chegando mesmo a indispor-se com o Capitão Guimarães. A 15 de outubro de 1771, seguiu escoltado com as devidas honras, para Vila Boa, o major José pereira Lisboa. Nesse dia, antes de amanhecer, a praça unida à prisão em que estava o ilustre criminoso, regurgitava de povo para obstar a sua partida; mas Lisboa nisso não consentiu. A 03 de dezembro de 1773, voltou Lisboa de Goiás, sendo recebido com as mais ruidosas manifestações de alegrias por parte do povo, indo ao seu encontro mais de duas mil pessoas. Apeou-se na Matriz, onde o esperavam o vigário, e todo o clero e as irmandades de onde assistiu ao te deum, em ação de graça pelo seu livramento. – é esta pequena história do célebre rego de Saia Velha, que ainda hoje é admirado e que tem sido ultimamente objeto de estudos, para o futuro abastecimento de água desta cidade. O incidente havido com o major Lisboa tirou aos empresário dessa importante obra o prazer de gozá-la e conservá-la, tanto que a água correu nas minas do cruzeiro “hoje Cazil” por muito pouco tempo, sendo a conservação do rego logo abandonado. Esse serviço ali esta feito com seu enormes aterros e seus cortes admiráveis; falta agora que os habitantes de Santa Luzia se congreguem e façam no rego os necessários reparos, para que tenhamos um farto abastecimento da excelente água do Saia Velha. – Quere é poder: A realização desse importante melhoramento não é tão custosa como a principio pode parecer; e com isto a nossa terra lucraria a imensamente. A água, com um percurso de cerca de 04 légua nos chegaria suficientemente oxigenada e, além disso, poderia melhorar muitíssimo os campos por onde tem de passar; pois, é sabido que todo o límpido ribeirão pode ser canalizado para esta cidade, pelo extenso e afamado rego. (Do Memorial Gelmires Reis, Casa da Cultura de Luziânia. Livro: Almanach de Santa Luzia; Organizado por: Evangelino Meireles e Gelmires Reis, 1920, Tipografia de O Plnalto. Santa Luzia – Go. Pág. 16 a 20).

domingo, 18 de abril de 2010

PAISAGEM URBANA

FOTO DA SEMANA



Luziãnia a partir das Janelas.
Vista a partir do 12º andar(cobertura) de prédio em construção, situado na Rua Florentino Chaves esq. com a Rua Delfino Roriz. A imagem apresenta a Rua Dr. Kisleu Dias Maciel,(rua do ginásio de esportes, centro de Luziânia, e no alto aparece a Catedral de luziânia, em construção.(Foto:Alessandro Moska, 2010)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

CASARÕES E MONUMENTOS DE LUZIÂNIA

TELHADO DE CASARÃO VAI SER REFORMADO.


Milton Vieira e Edmar Teles do Restaurante Casarão, na rua do Rosário em Luziânia Go.(Foto: José Álfio 2010)

O Casarão número 109 da rua do rosário, encontra-se em fase de reforma nas estruturas do seu telhado. Ali funciona, atualmente, o restaurante casarão, onde é servida as comidas típicas da região, preparadas em fogão a lenha, num ambiente acolhedor que nos remetem aos tempos antigos, das velhas fazendas do município de Luziânia. O restaurante é bastante freqüentado e recebe em média um número de aproximadamente 60 pessoas por dia. A reforma só foi possível como auxílio do proprietário do imóvel, Sr. Bolivar Palestino, que arcou com cinqüenta por cento dos custos da obra. O restante foi rateado entre o dono e o gerente do estabelecimento, que segundo eles não foi um custo exorbitante, em torno de dois mil reais, salvarão a estrutura de telhas térreas que cobre o velho casarão. Os donos do estabelecimento, Sr Edmar Teles do Santos e Milton Vieira Cotrim, acreditam que: “esta reforma garantirá mais segurança aos funcionários e clientes do restaurante, além de possibilitar a ampliação dos serviços ali oferecidos, e melhorias no aspecto do casarão que num estágio posterior ganhará nova pintura”, contribuindo assim na preservação das estruturas coloniais da rua do rosário.
O carpinteiro que trabalha na reposição das madeiras e nos serviços do telhado, Sr. João Pereira dos Anjos, 63 anos, natural de Luziânia região da Fazenda Quinta, onde hoje esta instalada a empresa Minuano, nos conta que a situação do telhado esta bastante deteriorada, apresentando madeiras apodrecidas e carcomidas, mas que já consertou vários casarões da cidade, e tem experiência no ramo, garantindo que: “com a reforma não vai aparecer goteiras, e a casa vai ser vista como nova.” Palavra de quem entende deste padrão de arquitetura, pois à origem e a mão-de-obra desse especialista nos garantirá a preservação da história da arquitetura colonial, que ainda insiste em sobreviver na movimentada e turbulenta rua do rosário. (Por: José Álfio)

MEMORIA SOCIAL

ACADÊMICO DE LUZIÂNIA SOLICITA SERVIÇO DE OBITUÁRIO


Antonio João dos Reis, ocupante da cadeira nº 25, da Academia de Letras e Artes do Planalto. Patrono August Saint-Hilaire. (Foto: José Álfio)

Documento apresentado em 31 de maio de 2006, na reunião da Academia. (transcrito por: José Álfio).
Sr. Presidente, Confrades, Confreiras e demais presentes.
Primeiramente, agradecer pela homenagem prestadas diante do falecimento de nossa irmã Maria madalena, e a todos que nos confortaram e nos visitaram.
OBTUÁRIO: Um apelo às autoridades, à Academia de Letras e Artes do Planalto.
Como acadêmico explico o motivo, a falta que faz uma comunicação.
No meu tempo como coroinha do saudoso Padre Bernardo, eu batia os sinos dando aviso do falecimento de alguém.
No tempo do saudoso padre Dario, havia o serviço de alto falante, também com música característica, o aviso de falecimento que as pessoas sabiam.
Tendo a Prefeitura um serviço de comunicação social, tendo a prefeitura uma administração no cemitério, bem que poderia colocar um serviço de ALTO FALANTE, localizado junto à praça da prefeitura, para anunciar o falecimento de hora em hora. Com isso, todos que passarem pelo local, ficariam sabendo do nome e horário de sepultamento.
Este aviso de hora em hora, não provocaria poluição sonora, pois tem muitas motos com som rodando pela cidade.
A prefeitura prestaria assim um grande serviço a nossa população.
LEMBRE-SE SÓ QUEM JÁ PASSOU, SABE AVALIAR A FALTA QUE FAZ.
Nessa oportunidade queremos apresentar os sinceros sentimentos às famílias de Dona FLORACY Meireles e do Sr. Clarimundo Curado, falecidos no mês de Maio de 2006, junto a eles, outros que nos deixaram, cujo os nomes não tivemos conhecimento.
Que Deus dê a paz e o descanso eterno.
Que seja constado em ata.

Cordialmente.

Antônio João dos Reis

quarta-feira, 14 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

OBJETOS HISTÓRICOS

ENGENHO ANTIGO
Engenho de madeira, cobertura de telhas, instalado no quintal da Casa da Cultura, Luziânia Go.(Foto:José Álfio, 2010)

Durante muitos anos eles funcionaram, geraram riqueza e continua presentes no meio de nós, seu valor, a sua história nos leva a viajar no tempo, no tempo em que eram principais fontes de riqueza da cidade. No ano de 1818, o Dr. Johann Emanuel Pohl visitou a propriedade de um rico fazendeiro chamado capitão Paschoal da Rocha Clemente, dono do engenho de São Sebastião em Santa Luzia, hoje Luziânia, ele nos conta que o fazendeiro no ano de 1810 pagou 35/8 de ouro, o equivalente a 126 gramas de impostos, da produção do seu engenho. (Paulo Bertran, História da Terra e do Homem no Planalto Central, pag.188)
Os engenhos, ou moendas eram fabricados a mão, usava-se ferramentas como, por exemplo: o machado, o serrote, arco de pua (uma espécie de furadeira manual), o formão, entre outras ferramentas. As madeiras para a fabricação do engenho denominavam-se: Angico, Bálsamo, jatobá e Braúna. Hoje, essas madeiras são raras e muito difíceis de encontrar, algumas não existem mais, pois foram extintas. Os engenhos, antigamente, levavam de 2 a 3 meses para ficarem prontos, hoje, com a tecnologia e o avanço das maquinas, em apenas duas semanas se constrói um engenho.
Do engenho moem-se a cana, para surgir daí o açúcar, a rapadura, o melado, e principalmente a pinga. As canas mais antigas, usadas para essas fabricações, denominavam-se: Cana-roxa, a Cana-caiana, cana-cuba, e a cana-ferro, todas já extintas. A cana-ferro era usada para fazer ração para os bois. Os engenhos podem ser puxados por ate 8 bois, depende do tamanho do engenho. Existem 3 classificações de engenho:o engenho de grande porte puxado por 8 bois,o engenho de porte médio precisa-se de 6 bois e o de pequeno porte apenas 2 bois.
Segundo informação do Sr. Aécio Chaves, agricultor, pecuarista, profundo conhecedor da técnica de fabricação e funcionamento dos engenhos antigos, as peças do engenho eram constituídas pelas Moendas, uma engrenagem que movimenta outras duas moendas laterais, o Tronco, onde se prende as moendas, Manjarra, uma corda artesanal usada para amarrar os bois no engenho, a Ponte, onde desce a garapa da cana moída, e a Bica, responsável para levar a garapa ao cocho, além do chumaço, a cunha e outros.
No engenho existem duas espécies de cobertura, uma em forma de telhado que parece a cobertura de uma casa, e a outra cobertura feita de capim caninha, (assemelhado a palha de arroz), cuja armação é feita de cipó, por ser um tipo de madeira flexível e que não quebra facilmente. O tempo passa mais a história nunca se apaga, jamais perderá a sua significação na lembrança dos antigos, daí, sua importância no curso do progresso. Perguntei ao Senhor Aécio o que significava o engenho na sua vida, ele me respondeu com toda clareza e orgulho: ”A minha vida é o engenho, eu sempre sonhei em viver a 50 anos atrás, uma fazenda sem engenho e sem bois não é fazenda.” (Por: Maria Elkaiane,colaborador: Aécio Chaves.)