segunda-feira, 25 de outubro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

PAISAGEM URBANA

REFORMA SOBRE REFORMA? O DILEMA DA VELHA IGREJA DO ROSÁRIO



Inicio das obras de restauração da Igreja do Rosário de Luziânia Go. Foto: José Álfio, 2010



Uma barreira de tapumes foi erguida na frente da Igreja do Rosário de Luziânia, marcando o início das obras de restauração do velho templo construído no ano de 1763, por 400 pessoas da raça negra, livres e escravos, sob a presidência do Revm. Dr. Jerônimo M. de Carvalho, chefiados pelo mestre de campo, Manoel de Bastos Nerva, sendo o arquiteto da igreja o Sr. Ignácio da Costa Xavier. Uma importante intervenção arquitetônica, nesta edificação, de que se tem notícia foi realizada no ano de 1934 pelo Frei dominicano Grabriel Maria de Menezes, que possibilitou a diminuição do corpo da igreja, principalmente nos fundos, na sacristia e nas torres, bem como da retirada de dois altares laterais da velha Igreja e que foram transportados para a Igreja Matriz da mesma cidade, segundo informação histórica do arquivo de Gelmires Reis. Desta forma e por medida de segurança, as imagens sacras de Santo Antônio, São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora do Rosário, foram para matriz. A velha Igreja foi tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual (Lei estadual nº 8.915 de 30 de outubro de 1980), e já passou por outras reformas e percalços, até mesmo uma tentativa de incêndio. Assim merece o respeito e atenção da comunidade de Luziânia, sobre sua importância na história e na paisagem da cidade. Membros da ONG proteger, entidade recém criada para tentar cuidar do acervo histórico da cidade, esteve no local das obras no dia 06 de outubro, para tirar fotos e entrevistar os artistas e técnicos empenhados no serviço de restauração da velha Igreja. A ONG manteve contatos com a coordenação dos serviços, e sem êxito, formalizou pedido oficial a área técnica do Iphan-Go, solicitando autorização para acompanhamento da obra e que o acompanhamento se restringia a fotos e entrevistas. O setor técnico informou que: “estamos elaborando estratégias junto ao técnico fiscal da obra e à empresa contratada para definição de como viabilizar este acompanhamento sem prejuízo da mesma. Tão logo tenhamos um cronograma formalizado, entraremos em contato”. Assim, o citado cronograma implica em etapas que já foram concluídas as quais não tivemos acesso para geração dos registros. Até o presente momento, vivemos uma expectativa, impedidos de adentrar no espaço da obra, da nossa velha igreja, atados a uma rede hierárquica e burocrática de complicado sistema de autorização, isto, já transcorridos mais de trinta dias do inicio das obras. Frente a esta expectativa coloco uma reflexão sobre a publicidade dos serviços, a transparência, e o direito a informação que qualquer cidadão pode almejar. Além disto, a destinação que se colocam sobre o bem de valor histórico na atualidade, onde ao invés de possibilitar a salvaguarda dos registros históricos e a sua disponibilização e acesso a todos, como fator de conhecimento e valorização da cultura, o que se vê é uma declarada especulação sobre os dados e vestígios históricos. O interesse maior em acompanhar as obras da velha igreja se restringe exclusivamente a fotos e entrevistas, como foi explicitado no pedido enviado ao Iphan-Go. Não queremos proceder auditorias, nem fiscalizar obras, de avultados recursos, para uma arquitetura feita de madeira (aroeira) e barro, com todo respeito a grandiosidade da arte, pinturas, entalhes, imagens sacras, que ornamentaram o centenário templo católico. O interesse maior é no registro histórico e artístico, que interessa a história da arte, e a história da cidade. Sem questionar a habilidades dos artistas, ou melhor, “técnicos” que estão ali trabalhando na grande obra da arquitetura do período barroco da cidade, sob o auspicio do conceituado instituto de preservação dos bens históricos de Goiás, o registro deste impasse sucinta uma pergunta? Será que vamos ter o privilégio de ver a pintura original restaurada, principalmente do altar principal e a imagem de Nossa Senhora do Rosário, esculpida por Veiga Vale, expressão maior do barroco em Goiás, de volta ao altar-mor da nossa centenária Igreja, sob o repicar dos sinos de uma de suas torres laterais? Se for reforma sobre reforma, o que resta pra ser restaurado? (por José Alfio)

ARQUIVO HISTÓRICO



Imagem de Nossa Senhora do Rosário, provavelmente de autoria do escultor Veiga Vale. Acervo da Matriz de Luziânia. Foto José Álfio.