LINGUAJAR ANTIGO DE LUZIÂNIA
CURRIÃO = CINTO, CINTURÃO
CAPANGA = BOLSA
GIBEIRA = BOLSO
RADIÓLA = APARELHO DE SOM
PELÊGO = COBERTOR
GUOIÁCA = CARTÊIRA
BINGA = ISQUÊIRO
TRAMÉLA = TRINCO
CANASTRA = BAÚ
TRÁIA = KIT DE PESCA
CALÇA PEGA FRANGO = CALÇA CURTA
JAPÔNA = BLUSA DE FRIO
PRECÁTA = CHINELO
CHINÉLO = SANDÁLIA
PÓ DE ARROZ = MAQUIAGEM
TAMANCO = SAPATO
JANELA = VITRÔR
VITRÔR = VENEZIANA
PAÇÓCA = FARÓFA DE CARNE
PATACÃO = MOÉDA
OS COBRE = DINHEIRO
DENTIFRISSO = CREME DENTAL
BANHA = ÓLE DE SOJA
QUEIMAR = BRONZEAR
(Por: José Álfio. Ajudem-nos a ampliar esta relação. se você conhece palavras antigas que receberam novas significações, envie para Ong protegerlza, nós agradecemos sua participação. wwwongprotegrlza.blogspot.com)
segunda-feira, 31 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
ARQUIVO GELMIRES REIS
SOBRADO ASSOMBRADO
Por Gelmires Reis (In-memoriam)

Tinha razão daquele sobrado vetusto, antigo, caindo aos pedaços, ser mal assombrado, centro de reunião de fantasmas, almas penadas, duendes, sacís-pererês, à meia-noite, para a orgia inquietante do além-túmulo. O seu construtor e proprietário foi senhor de grandes terras e enorme escravatura. Edificado no centro da fazenda Anhangatuba, a margem do ribeirão Solitário, irradiava poderio até quatro léguas, nas redondezas. Suas paredes ouviram muitas ordens de assassinatos, espancamentos e castigos terríveis. Havia no quintal moendas de chibatas, para martírio de negros rebeldes, tocadas a roda d’água. Um pelourinho imponente e impiedoso foi testemunha de muita chaga viva, que recebia, como curativo, salmoura forte com pimenta, para aumento das dores. Escravos eram dependurados nas arvores, pelos braços, como castigo dos furtos praticados, ficando naquela posição dias inteiros, sem alimentação e sem água. Ao lado de tanta malvadez vinha o desperdício da família. As moças quando queriam beber garapa, punham cuias cheias de açúcar, na bica do monjolo e iam aparar a água doce, adiante. Tantas raivas, ódios, angustias, lágrimas, sofrimentos e pragas concorreram para a completa decadência da fazenda e desgraça da família. Os chefões morreram desatadamente. Os filhos se retiraram dali, horrorizados, empobrecidos, indo procurar abrigos em outros lugares.
Desde então, o sobrado abandonado ficou sendo o paraíso dos morcegos, ratos, cobras, lagartixas, marimbondos, escorpiões, aranhas, etc. As poucas pessoas mais animosas, que, em viajem, tinham coragem de pernoitar, ali, fugiam, espavoridas, altas horas, gritando e pedindo socorros. Houve casos , até de dois rapazes, que enlouqueceram. Durante o dia, quando qualquer campeiro ia procurar alguma rês arredia, que costumava pastar naquelas imediações, ao aproximar-se do sobrado em ruínas, persignava-se, rezava o “Creio em Deus Padre” e pedia a Nossa Senhora para protege-lo e ampara-lo. O terror dominava em toda sua magnitude, no espírito da vizinhança de légua, pois ninguém tinha coragem de morar perto. Si algum viajor dizia que ia pousar no sobrado, recebia conselhos ponderados e cautelosos, para não fazer tamanha loucura. Havia citações de fatos sucedidos, que arrepiavam os cabelos, tão horrorosos eram.
Terêncio Monteiro, baiano destorcido, entretanto, não quis ouvir tais conselhos. Não tinha medo de coisas do outro mundo. Era devoto de São Bom Jesus da Lapa. Além disso, a sua faca era afiada e a sua pontaria certeira. Pousaria, ali, sem receio. O sol acabava de se despi do mundo, quando desarreou o cargueiro e o cavalo de sela. Poz a cangalha, bruacas, arreios e demais quiçaça de viagem em uma travessa de madeira, no compartimento superior, para evitar as visitas incomodativas dos animais à noite. Depois de tudo em ordem, ajeitou a cama, no assoalho, comeu paçoca, rapadura e queijo, bebendo água por cima.
Dormiu a sono solto, da primeira arrancada. Acordou com barulhos, no andar inferior. Conversas em voz baixa, cochichos, assovios, passos cuidados. E agora, pensou o hóspede, que a porca torce o rabo. Não devia ter vindo. Vim. Só me cabe agora agüentar o baralhado. Para começar a luta, resolveu atirar a cangalha, pela escada abaixo, a fim de espantar o que ali estava. Pegou a mesma e, num esforço supremo, arremessou-a. A retranca apanhou sua cabeça e la se foram os dois, aos trambolhões, até que pararam no compartimento térreo. Profundo gemido e deliciosa vertigem foram o resultado da queda.
Quando Terêncio recobrou os sentidos, o dia estava claro. O ar fresco da madrugada lhe foi benéfico. Estava com o rosto em uma poça de sangue. Sentiu o nariz dolorido. Retirou do bolso um espelhinho e olhou. O pobre órgão, encarregado de cheirar as coisas, estava amassado, dolorosamente vermelho, incapaz de agüentar o contato de qualquer objeto. Felizmente, os olhos não sofreram nada, tanto que avistou, sobre o caixote debruçado, servindo de mesa, notas de diversas importâncias, legítimas, dos Bancos, muitas moedas de ouro e de prata, além de objetos outros, de reconhecido valor. Não se lembrou mais de seu nariz. Levantou-se passou a mão naquilo tudo, ligeiro, pegou os animais, arreou-os e raspou dali, daquele sobrado, que era covil de ladrões. Roubavam na cidade e iam fazer a partilha, naquela tapera, que, por isso, ficou assombrada e aterrorizadora. ( Da Casa da Cultura de Luziânia, Memorial Gelmires Reis. Livro: Paginas da Roça, de Gelmires Reis, Editora: Gráficas Luzianas, Luziânia Goiás, 1945, pág. 39 – 41. Transcrito por: José Álfio)
Por Gelmires Reis (In-memoriam)

Tinha razão daquele sobrado vetusto, antigo, caindo aos pedaços, ser mal assombrado, centro de reunião de fantasmas, almas penadas, duendes, sacís-pererês, à meia-noite, para a orgia inquietante do além-túmulo. O seu construtor e proprietário foi senhor de grandes terras e enorme escravatura. Edificado no centro da fazenda Anhangatuba, a margem do ribeirão Solitário, irradiava poderio até quatro léguas, nas redondezas. Suas paredes ouviram muitas ordens de assassinatos, espancamentos e castigos terríveis. Havia no quintal moendas de chibatas, para martírio de negros rebeldes, tocadas a roda d’água. Um pelourinho imponente e impiedoso foi testemunha de muita chaga viva, que recebia, como curativo, salmoura forte com pimenta, para aumento das dores. Escravos eram dependurados nas arvores, pelos braços, como castigo dos furtos praticados, ficando naquela posição dias inteiros, sem alimentação e sem água. Ao lado de tanta malvadez vinha o desperdício da família. As moças quando queriam beber garapa, punham cuias cheias de açúcar, na bica do monjolo e iam aparar a água doce, adiante. Tantas raivas, ódios, angustias, lágrimas, sofrimentos e pragas concorreram para a completa decadência da fazenda e desgraça da família. Os chefões morreram desatadamente. Os filhos se retiraram dali, horrorizados, empobrecidos, indo procurar abrigos em outros lugares.
Desde então, o sobrado abandonado ficou sendo o paraíso dos morcegos, ratos, cobras, lagartixas, marimbondos, escorpiões, aranhas, etc. As poucas pessoas mais animosas, que, em viajem, tinham coragem de pernoitar, ali, fugiam, espavoridas, altas horas, gritando e pedindo socorros. Houve casos , até de dois rapazes, que enlouqueceram. Durante o dia, quando qualquer campeiro ia procurar alguma rês arredia, que costumava pastar naquelas imediações, ao aproximar-se do sobrado em ruínas, persignava-se, rezava o “Creio em Deus Padre” e pedia a Nossa Senhora para protege-lo e ampara-lo. O terror dominava em toda sua magnitude, no espírito da vizinhança de légua, pois ninguém tinha coragem de morar perto. Si algum viajor dizia que ia pousar no sobrado, recebia conselhos ponderados e cautelosos, para não fazer tamanha loucura. Havia citações de fatos sucedidos, que arrepiavam os cabelos, tão horrorosos eram.
Terêncio Monteiro, baiano destorcido, entretanto, não quis ouvir tais conselhos. Não tinha medo de coisas do outro mundo. Era devoto de São Bom Jesus da Lapa. Além disso, a sua faca era afiada e a sua pontaria certeira. Pousaria, ali, sem receio. O sol acabava de se despi do mundo, quando desarreou o cargueiro e o cavalo de sela. Poz a cangalha, bruacas, arreios e demais quiçaça de viagem em uma travessa de madeira, no compartimento superior, para evitar as visitas incomodativas dos animais à noite. Depois de tudo em ordem, ajeitou a cama, no assoalho, comeu paçoca, rapadura e queijo, bebendo água por cima.
Dormiu a sono solto, da primeira arrancada. Acordou com barulhos, no andar inferior. Conversas em voz baixa, cochichos, assovios, passos cuidados. E agora, pensou o hóspede, que a porca torce o rabo. Não devia ter vindo. Vim. Só me cabe agora agüentar o baralhado. Para começar a luta, resolveu atirar a cangalha, pela escada abaixo, a fim de espantar o que ali estava. Pegou a mesma e, num esforço supremo, arremessou-a. A retranca apanhou sua cabeça e la se foram os dois, aos trambolhões, até que pararam no compartimento térreo. Profundo gemido e deliciosa vertigem foram o resultado da queda.
Quando Terêncio recobrou os sentidos, o dia estava claro. O ar fresco da madrugada lhe foi benéfico. Estava com o rosto em uma poça de sangue. Sentiu o nariz dolorido. Retirou do bolso um espelhinho e olhou. O pobre órgão, encarregado de cheirar as coisas, estava amassado, dolorosamente vermelho, incapaz de agüentar o contato de qualquer objeto. Felizmente, os olhos não sofreram nada, tanto que avistou, sobre o caixote debruçado, servindo de mesa, notas de diversas importâncias, legítimas, dos Bancos, muitas moedas de ouro e de prata, além de objetos outros, de reconhecido valor. Não se lembrou mais de seu nariz. Levantou-se passou a mão naquilo tudo, ligeiro, pegou os animais, arreou-os e raspou dali, daquele sobrado, que era covil de ladrões. Roubavam na cidade e iam fazer a partilha, naquela tapera, que, por isso, ficou assombrada e aterrorizadora. ( Da Casa da Cultura de Luziânia, Memorial Gelmires Reis. Livro: Paginas da Roça, de Gelmires Reis, Editora: Gráficas Luzianas, Luziânia Goiás, 1945, pág. 39 – 41. Transcrito por: José Álfio)
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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