BANDAS DE MÚSICA DE SANTA LUZIA, HOJE LUZIÂNIAPor Gelmires Reis (in-memoriam) Perdem-se nas brumas do passado as organizações das bandas de música de nossa terra, uma vez que não se encontram registros das mesmas nas repartições públicas.
A custa de ingentes esforços servindo-nos da tradição e da lembrança pessoal, podemos dizer que a primeira banda de música conhecida foi sui-generis, graças ao espírito inventivo e artístico do Cel. José de Melo Alvares, fundador e diretor da Colônia Orfanalógica Blasiana, neste Município, que começou a funcionar em 21 de abril de 1881. Na primeira visita que o Presidente da Província fez a essa casa de ensino agrícola, foi recebido festivamente pelo diretor da Colônia e pela banda de música, por ele organizada, entre os Colonos, que tocavam em instrumentos feitos de bambus. A novidade chamou a atenção do ilustre representante de D. Pedro II, na província de Goiás.
Depois disso, vamos encontrar, nesta cidade, sob a batuta do maestro Carlos José da Rocha, a banda musical organizada por Antonio Machado de Araujo, em 1885, a qual era constituída dos músicos Pedro Rates, Ernesto Fernando Roriz, Preciliano Alves da Costa, Moisés Moreira e Souza, Manoel Lino, Francisco Roriz Junior e outros.
Estes amigos da arte apolínea mantiveram a agremiação até 1895, quando o maestro Sebastião veio da Capital de Goiás e ensinou os filhos do Cel. Joaquim de Mendonça Roriz os segredos da arte, de modo que formaram, na fazenda daquele senhor, uma banda de música constituída de Manoel de Araujo Roriz, Antonio de Araujo Roriz, Januário Roriz e Benedito Roriz de Araujo, além de outros, que se integravam na mesma. Quando vieram a esta cidade, inopinadamente, por ocasião de uma festa popular, maravilharam o povo, que não esperava por uma surpresa tão agradável. Desde então, o senhor Manuel de Araujo Roriz, ficou sendo o Diretor da EUTERPE DE SANTA LUZIA, que contou, ainda, com a colaboração de Sebastião Carneiro de Mendonça, Antonio Paranhos, Manoel Lino, Moises Joaquim Moreira e Souza, Presciliano Alves da Costa, Francisco Roriz Junior e outros, que estiveram em atividade até o ano de 1900, quando o senhor Alfredo Machado de Araujo assumiu a direção da banda. De 1900 a 1913, esses denodados santa luzianos deleitaram os ouvidos sentimentalistas do povo, com os acordes de seu instrumental. Entretanto, em 1911, houve a idéia de se fundar, nesta cidade, outra banda de música, que tomou o nome de União Recreativa que foi inaugurada em 11 de fevereiro de 1912, constituída pelos músicos José Brasil, Evangelino Meireles, Germano Roriz, Nicolau da Silva, José Francisco de Melo, José Irineu de Melo, Jose de Campos Meireles, Auberto de Paiva, José Epaminondas Roriz, Alirio Francisco de Melo, Benedito Palestino, João Afonço de Lima, João Batista Moises da Silva Roriz e Jerônimo de Souza.
Em 1913, foi o período áureo das bandas de musica de Santa Luzia, uma vez que a união Recreativa e a Euterpe de Santa Luzia disputavam forçadamente a primazia da vitória, dentro da arte, que imortalizou Carlos Gomes na tradicional Festa do Divino Espírito Santo, o povo de Santa Luzia assistiu entusiasmado e vibrante, o duelo musical travado entre as duas bandas nas procissões que se fizeram cada uma apresentando o melhor dobrado, escolhido a dedo, por mestres credenciados, de tal maneira que, quando uma dava a nota final, a outra pegava a execução da nova peça. Não houve vencidos nem vencedores, porque todas se saíram muito bem, com aplausos gerais dos assistentes, que se maravilharam com as solenidades daquela época.
Com o tempo, houve cansaços e arrefecimentos de ambas as partes até que em 1º de janeiro de 1919 os músicos remanescentes das duas bandas se uniram e fundaram a Sonata Luziana, constituída pelos músicos José Brasil, Delfino Meireles, Durval Meireles, Jermano Roriz, Antonio Março de Araujo, Benedito Palestino, Evangelino Meireles, Antenor Machado de Araujo e Benedito pereira Braga, recebendo então alguns elementos novos. Esteve sob a direção de Delfino Meireles por algum tempo até que o mesmo passou para o senhor Antonio março de Araújo, conhecido na intimidade por “Seu Vô”, que como verdadeiro amante da arte, a tem mantido até hoje, a custa de esforços próprios, sem bafejo oficial de qualquer natureza. Sempre se reúne para os tradicionais festejos do Espírito Santo com ensaios antecipados de um mês, mais ou menos. Atualmente está constituída de seu diretor e dos músicos José Roriz, Milton Carneiro, José Carneiro filho, Sebastião José Carneiro, Luso Meireles, Jose Cristiano Roriz, José Alberto Roriz, Lauriomnar Antonio Roriz, Péricles Meireles, Mourival Roriz, Benedito Barbosa dos Santos e Benedito Roriz. Todos discípulo do maestro Antonio Março de Araújo. Com a música local, dá-se os seguinte fato, que merece registro: quando os rapazes se entusiasma pelo casamento , quase sempre procuram aprender música e fazer parte da banda afim de impressionarem bem as moças; mas, logo que se casam deixam a banda e o instrumento de lado e vão tratar de uma vida mais realista. Na banda chefiada pelo senhor Antonio Março de Araujo já pontificaram os músicos Jose de Campos Meireles, Benedito Roriz de Paiva, Eurico Roriz de Paiva, Dercilio de Campos Meireles, Egesipio de Campos Meireles e outros. Além dos dados acima enumerados, convém lembrara que Benedito Claudino e Geraldo Martins Duarte foram Colonos e fizeram parte da banda de bambu, organizada pelo Cel. José de Melo Alvares: Benedito Inácio Roriz e Segismundo de Araujo Melo, da de Alfredo Machado de Araujo, todos eles merecendo francos elogios pelo muito que fizeram em benefício desta arte, que tanto empolga os ouvintes.
Sempre tivemos sincera e respeitosa admiração pelo talento e cultura do Maestro e compositor Antonio Março de Araujo que na sua pecaminosa modéstia, não gosta que o seu nome apareça nos cartazes da publicidade. Entretanto, a sua dedicação e o seu esforço era em prol da música de Santa Luzia, fazem jus a gratidão de um povo amante da arte, pois não poupa sacrifícios para manter bem viva o entusiasmo em benefício dos encantos musicais.
Santa Luzia, que teve a infelicidade de ver o seu lindo nome trocado pelo tartaroso e aminhocado Luziânia, rende aqui um premio de verdadeira homenagem ao ilustre mestre e compositor Antonio Março de Araújo, como um dos heróis da nossa música. Santa Luzia, hoje Luziânia em 16 de abril de 1938.
(Memorial Gelmires Reis, Casa da Cultura de Luziânia. Artigo publicado no jornal “O popular” de 22/05/1959. Transcrito por José Alfio e Rosana Roriz de Lima Reis, colaboração: Antonio João dos Reis)